Que Capeta é este?
– por Alexandre Cumino
Estes dias ouvi numa rádio um programa religioso de um outro segmento em que um "pastor" conversava com um ex-praticante de Magia Negativa. E os dois iam falando do diabo, falando do capeta, falando do tinhoso e dizendo que o espiritismo, a umbanda e o candomblé servem ao capeta. O ex-mago negativo dizia que trabalhou com mãe menininha, que trabalhou com Chico Xavier, que foi Maçom, foi tudo e que tudo era magia negra. Que todos serviam ao dito cujo.
Eu poderia ficar com raiva, poderia querer processar, poderia querer briga com o tamanho dos absurdos que ouvi.
Mas é tamanha a ignorância, é tamanho o desconhecimento do que está falando, é tão ridículo fazer estas afirmações, que a gente deveria apenas ter dó e ter pena de gente que usa de tais palavras para denegrir as praticas religiosas alheias.
Então não quero mais briga, não quero mais passar raiva, não quero mais confronto quero apenas estar junto de meus irmãos trabalhando o conhecimento, a cultura e a informação que tornam tão ridículas estas afirmações.
Religião do capeta é aquela que precisa do capeta para sobreviver. O "capeta" é alguém contratado para manter vivas as religiões que vivem do exercício de combatê-lo. Elas pagam para o capeta assombrar seus fiéis e terem o status de mandá-lo embora.
Religiões que criam o medo em seus fiéis só para poder vender a cura do que eles mesmas criaram.
Discursos teológicos infernais que alimentam o preconceito, a ignorância, o separativíssimo, o sectarismo, e principalmente o medo. Da mesma forma, pela mesma fórmula, alguns se sentem os heróis os destruidores do mal, os caça capeta por estarem dentro de um contexto em que o capeta é quem arregimenta seus fiéis. Se todos chegam com medo do capeta, então é o capeta que está a seu serviço lhe encaminhando fiéis.
Na Umbanda não temos o capeta, não lutamos contra o capeta e não usamos o capeta para arregimentar fiéis.
Como diria o saudoso Pai Francelino de Xapanã, que negócio é este? Que capeta é este que toda semana é expulso da Igreja e toda semana ele está de volta para ser expulso outra vez?
Que capeta é este?
Eu não sei!!!
Mas se ele existe seu nome deveria ser ignorância, ego, vaidade, cobiça, desamor e etc. Combater isso como um agente externo, pode funcionar de forma temporária.
Todos que estudam um pouquinho mais sobre o ser humano e sua psique sabem que lutar contra a sua sombra só faz ela crescer mais e mais.
Estão surgindo líderes religiosos com sombras gigantes, com sombras cada vez maiores, que exigem deles uma luta constante e ininterrupta. O que é muito desgastante, cansativo e que mais hora, menos hora acaba fugindo ao controle.
Lutar contra a sombra, cria uma dissociação do ser, tudo isso faz parte de nós e deve ser conhecido, assumindo a reponsabilidade por nossos atos movidos por nosso amor ou por nosso desamor, por nosso saber ou por nossa ignorância, por nossa fé ou por nossa ilusão. Devemos conhecer nossa sombra e colocar luz acima de nossas trevas. Devemos nos conhecer e curar nossos desequilíbrios, medos e frustrações.
Colocar a culpa no capeta é fácil, no entanto trará muitos problemas para o futuro, pois todos que colocam a “culpa” de seus atos num agente externo estão perdendo a oportunidade de se conhecer e assumir as rédeas de sua vida.
Colocar a culpa em alguém tira de si mesmo a oportunidade única de assumir a responsabilidade por seus atos e distancia a oportunidade de perdoar a si mesmo e perdoar o outro. Por isso ilusão e fanatismo estão sempre de mãos dadas.
Todos que dão à um agente externo o poder de suas vidas estão combatendo a si mesmos eximindo-se da responsabilidade das escolhas que fez e faz na vida. Então tudo que é negativo se torna uma tentação e a única maneira de sobreviver é estar 24 horas em guerra consigo mesmo, a única saída é o fanatismo total. E quem está constantemente em guerra consigo mesmo não consegue perdoar de jeito nenhum que vive em PAZ. Quem vive em guerra, quem está no inferno quer infernizar a vida de quem vive em PAZ. Então a forma de infernizar é tentar condenar ao inferno todos que não estão no mesmo inferno que eles.
Certa vez li um conto de duas crianças que se embriagaram na adega da família e uma criança embriagada gritava para a outra fazer silêncio e assim era a forma delas terem silêncio, na sua embriaguez, uma gritando com a outra, este era o seu silêncio. Assim é a paz e o reino dos ignorantes que passam os dias gritando o nome do senhor, expulsando o capeta e mandando em bora uma patê de si mesmo que deveria ser conhecida. Estas religiões que vivem de expulsar o capeta devem sobreviver mais uma ou duas gerações. Pois você expulsa o capeta na igreja e ele pega você em casa, pode-se disfarçar e mentir para um pastor. Pode-se enganar uma comunidade, pode-se fingir ser santo para pessoas desconhecidas, mas é impossível fazer isso com seus filhos. A criança sabe se esta religião faz de seus pais pessoas melhores, mais amorosas ou não. E para a criança a única coisa que importa é se seus pais são ou não amorosos.
Haverá uma nova geração, dos filhos de pais que passaram seus dias expulsando o capeta e colocando a culpa de seus atos no diabo, vamos ver como vão crescer estas crianças e quais serão suas escolhas espirituais. Daqui uns trinta anos veremos o futuro daqueles que lutam contra a própria sombra e tentam assombrar todos que não compartilham da mesma dissociação de identidade1-1 Tweetar Seguir @DanielVinhas1
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