O livro de Paula Montero traz original e preciosa informação sobre um significativo segmento das terapias alternativas oferecidas aos brasileiros. Da doença a desordem constitui rigorosa analise das práticas terapêuticas da Umbanda e da cosmovisão que inspira a sua interpretação etiológica da eclosão de moléstias. Os estudiosos do que se poderia chamar de pluralismo terapêutico usam diversas designações para indicar as
outras terapias, as que não são oficiais e nem consideradas científicas. Assim, expressões como "medicinas alternativas", "terapias marginais", "medicina popular" e "medicina de Folk" sic) empregadas em diferentes contextos sociais. Qualquer destas expressões, inclusive a de "terapias religiosas", pressupõe não apenas o pluralismo terapêutico, mas a existência de um referencial indispensável para a configuração de uma outra medicina: a medicina oficial. Realmente, a constituição e o reconhecimento de uma medicina alternativa não poderiam se estabelecer sem sua lógica alteridade em relação ao sistema da medicina oficial, de seu saber e de sua prática socialmente privilegiados. Face aos característicos da Umbanda, aprofundou a autora as noções de cultura popular, ideologia e relações de poder. Ao estudar a Umbanda opta por uma postura metodológica bem adequada ao feitio das terapias religiosas no Brasil. Não cuidou, nem empírica, nem metodologicamente, de procurar terapias que antropólogos e sociólogos consideram resquícios do rural e do passado, formas de sobrevivência fadadas a desaparecer com o processo de urbanização e desenvolvimento industrial. A hipótese central de seu livro, pelo contrario, refere-se ao surgimento crescente de terapias que se desenvolvem em áreas metropolitanas e em cidades medias, afetando amplas parcelas da população. A elaborada interpretação das
moléstias pela visão umbandista do mundo constitui o universo privilegiado da observação e da rica analise antropológica da autora.
1 O PROCESSO DE DESAGREGAÇÃO DAS TERAPÊUTICAS TRADICIONAIS .............................................................................. 13
II O CAMPO DA SAUDE E O PODER DE CLASSE ....................... 65
1. A prática médica e o atendimento das camadas po-
pulares ............................................................................................ 75
2. A prática médica e a percepção popular da doença ............. 86
3. Medicina mágica e medicina oficial: o conflito de competências 105
III A PERCEPÇÃO POPULAR DA DOENÇA E SUA REIN-
TERPRETAÇÃO RELIGIOSA .................................................... 117
1. Da doença a desordem ............................................................. 118
2. A cura mágica ........................................................................... 129
3. Da fraqueza do corpo a força dos espíritos ......................... 161
IV AS REPRESENTAÇÕES SIMBOLICAS DOS DEUSES E
O PROCESSO DA DEMANDA .................................................. 175
1. O espectro das cores e o jogo das forças: o branco e
o negro ......................................................................................... 180
2. O masculino e o feminino ....................................................... 204
3. O processo da demanda ........................................................... 231
CONCLUSOES ............................................................................... 253
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